domingo, 18 de julho de 2010

Magistério, um sacerdócio?

Nos últimos meses, desde a greve dos professores, uma ferida vem sendo exposta. A educação está sangrando e à mostra. Mas, o que está acontecendo? O óbvio. Já não dá mais para reduzir aos muros dos colégios, as mazelas desse setor.
As escolas estão em crise. Uma crise moral, financeira, legal e assim por diante. Moral, porque não há mais respeito para com os mestres, que são facilmente intimidados por pais, alunos, direções e outros colegas. Perdeu-se a autoridade e o respeito pela profissão. Muitos professores são ridicularizados ao responderem a que grupo profissional pertencem.
Crise financeira, porque hoje, quando se fala em educação, o primeiro item que é usado para explicar o mal desempenho, é o economico. Governos alegam não ter recursos suficientes para modernizar a educação. Mesmo com tantas verbas e incentivos...
A questão legal, fica por conta de estudantes que ministram aulas como professores titulares, contrariando a LDB, que diz que só professores habilitados podem lecionar. Como sempre, as leis brasileiras ou são desrespeitadas ou tem brechas.
Por fim, o profissional professor é posto como vilão, sendo responsabilizado pelo fracasso e ineficiencia de um sistema absurdo, que o adoece cada vez mais. Se os professores faltam, não se diz das doenças adquiridas por estes no ambiente de trabalho (depressão, LER, DORT, coluna, problemas respiratórios e assim por diante). O que se divulga é que na ausência deste, o Estado perde dinheiro.
O dinheiro, sempre ele. O Brasil, é o unico país em que não se investe em Educação, mas, se gasta com ela. Por isso, as instalações não passam por manutenções adequadas, não há um programa permanente de atualização do professor. E o pior: a nova onda é transformar o professor em operário, dando-lhe bonus por resultado.
Esse bonus é injusto, pois não mede a real capacidade do profissional, já que seu critério é subjetivo e depende mais da sorte, do que de alunos e professores, efetivamente. Onde leciono, por exemplo, perdemos o prêmio, por causa do fluxo. Em outras palavras, os alunos não tiveram mal desempenho no SARESP, o que houve, foi um grande número de transferencia de alunos. Algo absolutamente normal numa periferia. As pessoas mudam de endereço e de escola, por ser mais próximo de trabalho, família, amigos, etc.
Porém, o que na verdade o bonus representa, é a reposição da inflação dos últimos 12 meses. É uma maneira de fazê-lo sem o comprometimento de onerar o Estado com um aumento real e aplicado a todos os profissionais.
Outro ponto, é que além de tudo, o professor atualmente tem tido seu salário arrochado em meio a inflação, enquanto os impostos e as despesas se multiplicam, sua renda permanece a mesma há anos. Aí, vem o tal Bonus por Mérito. A meu ver, mérito tem todo o profissional que estuda continuamente, que faz cursos e tá sempre em busca de aprofundar. Prova, não prova competência.
A metodologia que a SEE-SP prega, é uma avaliação continuada, não é mesmo? Por que os professores tem que ser avaliados por uma metodologia que não devem usar em seu cotidiano? Incoerente, não?
Por fim, devo destacar que o fato de o magistério ser considerado uma profissão feminina e ser o "bico" de muitos, vai tornando a situação cada vez mais precária. Há ainda a velha visão de que o professorado deve ser entendido como sacerdócio, para o qual, alguns escolhidos foram vocacionados. Perfeita visão medieval, quando além disso, o professor deveria ser casto.
O fato é que hoje em dia, a opção pelo magistério é profissional. As pessoas investem dinheiro para fazer a graduação. Muitas famílias dependem da renda desse ofício. Esse profissional, como sacerdote, não vive de brisa, nem tem isenções de impostos. Mesmo os sacerdotes, tem garantida a sua sobrevivência com dignidade. Alguns, tem até excesso de dinheiro. E o professor?

3 comentários:

  1. Companheira Luana, o que dizer sobre tudo que ta escrito aí? Vc escreveu o que de fato ta acontecendo na educação paulista.Suas palavras retratam a realidade da escola pública de SP.Parabéns. Excelente texto sobre os problemas vividos e enfrentados no cotidiano do professor.
    Abraços,
    Lala Rempel

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  2. Muito obrigada pelos comentários elogiosos. Tento expor o que penso e sinto na pele.
    Creio que devemos lutar pela nossa dignidade profissional.
    Abraços.
    Luana.

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