sábado, 22 de agosto de 2009

O engodo do aumento salarial dos professores paulistas:

Não bastasse o descaso com que o governo José Serra trata a educação paulista, onde não se qualificam profissionais, apenas se oferecem cursinhos medíocres via teleconferência (que muitas vezes não se consegue acessar), a secretaria da Educação lançou mais uma novidade: o aumento de salários por evolução funcional. Uma idéia brilhante, e que premiaria os profissionais de educação, se estes tivessem um salário digno e tempo para estudar, além de incentivo financeiro para tal.
O fato é que a nova medida é uma vergonha nacional. A lei prevê aumentos exorbitantes de aumento. Uma valorização que em tese pode chegar a até incríveis seis mil reais.
Porém, é uma lei tucana, ou seja, ela tem traços neoliberais e pitadas de má intenção, além de um caráter eleitoreiro e enganador. Também pudera! É uma lei de Serra e como tal, foi votada na calada da noite (durante o recesso escolar de julho e em meio à pandemia).
Pois bem, vamos ao fato. O PLC - 29/2009, prevê o tal aumento à categoria dos professores, mas, impõe regras descabidas, como a que diz que para o professor evoluir, tem que ter 4 anos no funcionalismo e 3 anos e 2 meses na mesma Unidade Escolar. Ora, exigir que o profissional se fixe num mesmo ambiente para premiá-lo é no mínimo insano, tendo-se em vista que as escolas da rede, normalmente não tem ambientes de trabalho que permitam essa permanencia. A maioria das escolas estaduais de S. Paulo, são insalubres, principalmente, devido à estrutura dos prédios e com relação à clientela.
Como obrigar um professor a permanecer num ambiente dominado pelo tráfico de drogas, a violência, o assédio moral, a desorganização administrativa, às ameaças da comunidade e assim por diante? Além do mais, muitos professores mudam de escola, por problemas de ordem pessoal, como a mudança de cidade e assim por diante.
O fato de um profissional mudar de ambiente, não significa a perda da sua qualificação. Pois, os títulos recebidos, independem da região habitada. Ou será que as especializações, os mestrados e doutorados só valem no local de sua emissão?
Outra coisa que choca na lei, é o fato de impedir a evolução profissional com o critério faltas. Na lei, fala-se em punir as faltas abonadas (abono esse legal e dado pelo governo), inclusive, às faltas-aula (aquelas em que o profissional se atrasou, por exemplo, e passa a entrar na aula seguinte). Essa obsessão em punir os professores faltosos tem um motivo: esconder o real motivo dessas ocorrências, que passam pela violência, o fato de a categoria estar doente e assim por diante.
Para o governo do PSDB, Educação é simplesmente uma empresa. Tratam dela como se fosse algo exato, previsível, quantificável. Esquecem que professores e alunos são gente, e como tal, merecem respeito, carinho e cuidado.
Há poucos dias, foi ao ar uma entrevista ridícula do governador de S. Paulo ao Jô Soares, na qual ele dizia não gostar de trabalhar de manhã e entre outras bobagens, que dava aulas muito boas (quanta modéstia) à crianças da 4ª série. Seria comico, se não fosse trágico. Primeiro, a agenda de um político, não é algo realmente a ser levado a sério, pois, em se tratando de um cargo executivo, ele estando ou não presente, há toda uma estrutura por trás, para fazer as coisas acontecerem. Sua figura é mais uma ilustração dos bastidores. Depois, a aula dada por ele a uma turma de 4ª série, ocorreu na E.E. Mario Kosel, e para ela, houve todo um preparo específico, que beirou à lavagem cerebral das crianças.
O ideal, é que ele fosse acompanhar o cotidiano verdadeiro de uma escola, onde adolescentes fumam maconha em sala de aula. Aí, sim, seria o pleno exercício de professor. Brincar de mestre, com toda uma estrutura por trás, é muito divertido, mas não é o mundo real.
Esse blá blá blá paulista me cansa. A mídia gosta de usar S. Paulo como modelo. Porém, não é assim que a banda toca. Aqui não é o mundo encantado que todos mostram na TV. Em S. Paulo, além dos professores serem mau remunerados, são tratados com descaso em todos os sentidos. No caso particular da autora desse texto, são 30 meses de pagamento errado e nenhuma solução. Descaso total com o profissional.
Em plena pandemia de gripe suína, mais descaso ainda. O retorno às aulas, ocorrido no último dia 17, foi sem nenhum material de apoio. Nada. Nem álcool em gel, nem cartilhas explicativas, nem nada. Como sempre, estava lá o professor, na linha de frente da situação, expondo sua saúde ao risco total.
A situação também é caótica no estado vizinho, Rio de Janeiro, onde os professores ganham cerca de 600 reais, por um cargo de 12 horas em sala e o restante em atividades pedagógicas, até somar 20 aulas. Lá, nem auxilio-transporte se paga e o governo, propôs um aumento que será pago até 2015.
É muito engodo. Muita publicidade, pouco salário e nenhuma valorização. Com o tempo, as pessoas migrarão do magistério para outras profissões menos desgastantes e com salários um pouco melhores, nesse momento, a sociedade sentirá saudade do único profissional capaz de transformar verdadeiramente o país.
Será tarde demais.

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